A movimentação do comércio paulistano acompanhou o desaquecimento da economia no primeiro semestre de 2012. De acordo com a Associação Comercial de São Paulo (ACSP), as vendas do período, comparadas com os primeiros seis meses do ano passado, cresceram 3,1% nas transações a prazo e 2,8% nas aquisições à vista – muito abaixo do acumulado entre janeiro e junho de 2011 (ante 2010), de 6,4% e 7%, respectivamente.
“Em função dos incentivos fiscais e monetários que foram dados pelo governo e com a continuidade da expansão da renda e do emprego, a expectativa é de recuperação do nível de atividade no segundo semestre”, declarou ontem o presidente da ACSP e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp), Rogério Amato.
Reflexo – “Os números do semestre refletiram o desaquecimento da economia, agravado pela crise europeia e a desaceleração na China”, acrescentou o economista do Instituto de Economia Gastão Vidigal, da ACSP, Emilio Alfieri.
O balanço elaborado pelo instituto é baseado em amostra de dados de clientes da Boa Vista Serviços, responsável pela administração do Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC).
Junho – A análise mensal do balanço destaca, em junho, o impulso positivo da redução do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) no desempenho das vendas parceladas, para a aquisição de itens de linha branca e móveis.
O Indicador de Movimento do Comércio a Prazo (IMC/SCPC), que é o parâmetro para essas transações, cresceu 5,4%, na comparação com o mês de junho de 2011.
Na mesma base de comparação, as transações pagas à vista, que são medidas pelo Indicador de Movimento de Cheques (ICH/SCPC Cheque), saltaram apenas 0,3%.
Alfieri explica que as temperaturas ficaram mais altas, na segunda quinzena de junho último, prejudicando as vendas de casacos , blusas, coberdores, edredons e aquecedores, entre outros itens de frio, ao contrário do que aconteceu com o comportamento do tempo em igual período de 2011. Com isso, a base de comparação das vendas à vista ficou ainda mais forte, justificou o economista.
A mesma “falta” de frio, no mês passado, fez as vendas à vista recuarem 3% ante maio de 2012. Na mesma comparação entre períodos, as transações a prazo registraram crescimento de 1%.
Inadimplência – De acordo com o balanço da ACSP, as dívidas atrasadas das pessoas físicas permaneceram em patamar elevado no mês de junho.
O Indicador de Registro de Inadimplentes (IRI) apresentou alta de 9,8%, ante igual mês do ano passado, enquanto o Indicador de Recuperação de Crédito (IRC) cresceu 8,9%, nesta mesma base de comparação de junho.
Segundo análise de Alfieri, a inadimplência permanece sob controle, porque o emprego e a massa salarial se mantêm em crescimento, ainda que a economia continue em ritmo fraco, resistindo às medidas de flexibilização da política monetária e redução de juros.
O mesmo raciocínio, segundo ele, vale para o comportamento da inadimplência acumulada no semestre. De acordo com o balanço da ACSP, os dois indicadores de inadimplência (novos registros e registros cancelados) acumularam crescimento de 7,9% entre janeiro e junho de 2012, ante igual período do ano passado.
“É um nível alto de inadimplência, mas não é recorde”, compara Alfieri. Nos seis primeiros meses de 2011, a taxa líquida de inadimplência foi de 7,5%. Em igual período de 2010, ela foi de 6,6% e no primeiro semestre de 2009, o indicador bateu em 8,7%. “Foi o pico da crise econômica internacional, com forte impacto no nível de emprego”, justificou.
VESTUÁRIO
A Associação Brasileira do Vestuário (Abravest) reviu a previsão de crescimento do volume de vendas do setor para 2012, dos iniciais 2% para 4%. “Começamos mal o ano de 2012. O primeiro semestre foi péssimo para a indústria de vestuário, mas historicamente, julho é um mês melhor para nós”, comenta o presidente da entidade, Roberto Chadad.
Ele explica que apesar de o inverno representar 20% da produção anual do setor, ele “derruba” o faturamento, porque o volume de vendas do período é muito menor. Nesse período, acrescenta, o setor também se recente do volume de produtos importados. O ambiente favorável de julho, explica, se deve ao envolvimento do setor com as produções para o próximo verão.
A Abravest estima que o crescimento do volume de vendas dos primeiros seis meses do ano não chegue a 2%, na comparação com igual acumulado de 2011. “Acredito que deverá ficar entre 1,5% a 1,6%”, afirmou Chadad.
Ele explica que a revisão para melhor, na projeção anual, se deve à crença de que haverá melhora no cenário econômico internacional. Além disso, acrescenta Chadad, o governo está gastando e a elevação do dólar reduz o volume de importações que concorrem com os produtos nacionais. “Com a melhora na Europa, ela vai importar um pouco mais de produtos agrícolas e isso é melhor para nós”, sintetizou.
Lavadoras podem salvar o setor
Os fabricantes de produtos eletroeletrônicos estão otimistas quanto às perspectivas de vendas no segundo semestre. A decisão do governo federal de prorrogar a redução da alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para a linha branca por mais dois meses deverá ajudar o segmento e contribuir para o bom desempenho no segundo semestre, diz Lourival Kiçula, presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros). Ele estima que houve alta de 5% nas vendas em volume no primeiro semestre deste ano ante igual período de 2011.
No ano passado, foram vendidos 6,4 milhões de refrigeradores, 4,5 milhões de fogões e 7,2 milhões de lavadoras de roupas. No caso destas últimas, Kiçula ressalta que elas estão em apenas 50% dos lares brasileiros e, por isso, o IPI baixo pode tornar esse mercado maduro, como ocorreu com o de geladeiras.
SUPERMERCADOS
No caso dos supermercados, a elevação de 6,81% nas vendas (em faturamento) no primeiro quadrimestre do ano ante o mesmo período do ano passado fez com que a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) planeje a revisão de suas perspectivas de desempenho, já que havia inicialmente estimado o crescimento de todo o ano de 2012 entre 3% e 4% ante ao desempenho de 2011.
Otimista, o presidente da entidade, Sussumu Honda, diz que “até o momento o resultado das vendas mostra que o movimento positivo continua neste ano. Temos expectativas de que essa tendência se confirme no decorrer do ano com a retomada da atividade industrial. O reajuste do salário mínimo de 14% no início do ano, o menor índice de desemprego e o consequente crescimento da massa salarial tiveram um efeito muito importante no consumo”. De acordo com Honda, os dados de todo o primeiro semestre serão um bom indicador para as projeções dos próximos seis meses.
INDÚSTRIA
Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), afirma que as perspectivas de recuperação no segundo semestre são mínimas. Para sustentar este prognóstico, ele recorre às estatísticas mais recentes: nos cinco primeiros meses do ano a indústria no Estado de São Paulo registrou uma queda de 6% na produção ante o mesmo período de 2011 . Apenas em maio, a retração foi de 0,6% com ajuste sazonal frente a abril. Por isso a previsão da entidade para o Índice Nacional de Atividade (INA) é de recuo de 2,1% diante do resultado do ano passado, quando registrou alta de 0,6%.
Fonte: www.dcomercio.com.br – Publicado, 02/07/12 – Escrito por Fátima Lourenço e Paula Cunha