Em seu sétimo semestre no curso de ciência da computação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), André Ferraz, de 20 anos, já deu seus primeiros passos para transformar suas ideias talentosas em seu próprio negócio. Criou uma solução tecnológica a partir de sua dificuldade como consumidor em shoppings e grandes lojas, quando perdia boas ofertas por falta de informações. Batizado de Ubee, sua invenção procura garantir uma experiência de compras melhor para os consumidores, ao mesmo tempo que gera informações preciosas ao lojista, através de uma plataforma de comunicação e de monitoramento dos hábitos desses clientes. Mas André não vem tendo na universidade apenas um aprendizado aprofundado de tecnologia da informação (TI) para desenvolver invenções como o Ubee. É nesse mesmo mundo acadêmico que o estudante está aprendendo a transformar a ideia em negócio, sem medo de rejeição. Pois esse temor é que impede muitos talentos brasileiros de prosperarem.
Essa espécie de “complexo de vira-lata” da tecnologia – como dizia Nelson Rodrigues em relação ao nosso futebol da era pré-títulos – é o principal foco de combate das entidades que apoiam novos talentos e podem ajudar o País a multiplicar o número de startups de sucesso e formar jovens empreendedores milionários, como o paulista Michel Krieger, do Instagram – o aplicativo vendido ao Facebook por US$ 1 bilhão. “Temos de fomentar as universidades para que elas cobrem atitudes empreendedoras dos alunos”, defende Rubem Saldanha, gerente de educação da Intel do Brasil. A questão do medo do empreendedorismo, segundo ele, já foi assunto no ano passado em evento paralelo ao World Economic Forum. Na ocasião, um estudo mostrou que latino-americanos, em geral, têm medo de fracassar.
“E o medo de falhar é um entrave. Então, a aula de empreendedorismo, como disciplina em um curso de TI, não deixa de ser também um trabalho psicológico; de que os alunos podem errar uma, duas vezes… Mas uma hora vai funcionar”, explica Saldanha.
André Ferraz e sua solução para o varejo foram levados pela Intel Brasil mês passado para o Entrepreneurship Bootcamp, um workshop de empreendedorismo de uma semana, promovido pela Universidade de Stanford, no Vale do Silício. O objetivo: conversar com os maiores especialistas para transformar ideias tecnológicas em negócios. Além de jovens alunos criadores de startups, a Intel levou os professores das três universidades que incentivaram os projetos – Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Dessa forma, diz Saldanha, os professores puderam aprender mais e aperfeiçoar a disciplina de plano de negócios ministrada para os alunos de computação. “A experiência em Stanford foi incrível, um período muito intenso de aprendizado, networking e validação do negócio.
Notamos alguns padrões interessantes nas empresas e no discurso dos investidores de risco como, por exemplo, o valor da cultura da empresa durante o crescimento e a importância da velocidade no processo de validação do negócio. Ficamos muito felizes pelos feedbacks que recebemos e pelo interesse em nossa startup”, conta o jovem André Ferraz. O nome Ubee é uma corruptela do termo de computação ubíqua, que se refere à presença da tecnologia no cotidiano. “Bee”, de abelha, dá ideia de trabalho e criação constante.
A Ubee, segundo Saldanha, já está em um estágio acima do que ele chama de fase “power point” (do mundo teórico acadêmico) e começa a abrir para o mercado de investidores-anjos. Por essa razão, as chances de sucesso aumentam, já que a ideia é muito promissora. Outra startup que participou do treinamento em Stanford foi a Kryptus, especialista em segurança da informação, criada em 2003, a partir do Computer Systems Laboratory (LSC) da UNICAMP. “O maior ganho na experiência, de maneira geral, foi a mudança de visão: é importante mirar mercados de volume onde possa haver crescimento explosivo. Este é o espírito. Também é posição unânime que um plano de negócios clássico não tem utilidade neste cenário, pois as incertezas são muito grandes”, afirma Roberto Gallo, diretor da Kriptus. “Essa startup já está num estágio mais amadurecido de negócio”, analisa Saldanha, da Intel.
Ele diz que o processo de tornar a startup tecnológica uma grande empresa pode levar de quatro ou cinco anos. Segundo Saldanha, hoje já existem diversas associações de investidores-anjos no Brasil. O investimento em uma ideia inovadora varia de R$ 50 mil a R$ 150 mil. Conforme a startup evolui, passa por maiores patamares de investidores: venture capital e private equity.
“Hoje, China e Coreia já chegam a dois dígitos de patentes registradas por ano. O Brasil ficou para trás. Para recuperar esse tempo, o caminho é o reforço no mundo acadêmico, do conceito de empreendedorismo. Dessa forma é que as pesquisas podem virar um negócio”, acrescentou o executivo.
Serviço
Para quem deseja mais informações sobre as startups citadas e como investir:
www.ubee.in
contato: André Ferraz,
e-mail: hi@ubee.in
www.kriptus.com
contato: Roberto Gallo;
e-mail: gallo@kryptus.com
www.intel.com/educacion
Fonte: www.dcomercio.com.br – Publicado 21/05/12 – Escrito por Fernando Porto