As empresas chinesas descobriram o potencial do mercado brasileiro. Nos últimos dez anos, os investimentos diretos do gigante asiático por aqui totalizaram US$ 24,4 bilhões – sendo que outros US$ 44,1 bilhões ainda estão para serem confirmados. E a qualidade dos aportes só tem melhorado.
Até antes de 2008 os investimentos chineses visavam basicamente as commodities brasileiras. Hoje, são direcionados em peso para o setor manufatureiro, mirando a crescente e nova classe média do País, sedenta por consumir.
A recíproca não é verdadeira. Em período semelhante o Brasil injetou diretamente na economia Chinesa apenas US$ 572,5 milhões estruturando, basicamente, escritórios de representação. Esse volume representa 0,04% do estoque de investimento estrangeiro na China. Os dados fazem parte de um estudo divulgado ontem pelo Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC).
“Nossos investimentos estão muito aquém da importância que a China tem para nossa economia”, disse Cláudio Frischtak, consultor do CEBC e responsável pelo estudo.
Parceiro – A partir de 2008 a China intensificou sua presença no mundo e no Brasil, tornando-se, hoje, o principal parceiro comercial brasileiro no que tange o comércio exterior. Entre importações e exportações, o fluxo comercial entre as economias deve chegar a R$ 78 bilhões ao final de 2012.
Nesse processo, a China também passou a injetar capital direto por aqui, estruturando plantas de grandes empresas como as das montadoras JAC Motors e a Cherry, que vieram respaldadas por uma rede de mais de 100 concessionárias.
Energia – O mercado consumidor crescente do Brasil tem estimulado as empresas chinesas a montarem suas bases por aqui. Soma-se a esse fato as crises pelas quais passam os mercados europeus e o dos Estados Unidos, que acabaram por tornar as economias emergentes mais atrativas para investimentos. Antes desse período, os investimentos chineses eram voltados à infraestrutura, agronegócio e energia, como, por exemplo, a aquisição pela estatal chinesa Sinochem de 40% da exploração do campo de petróleo Peregrino, na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro.
Curiosamente, a entrada de grandes empresas brasileiras no mercado chinês data de antes da relação entre as duas economias se fortalecer. Apesar do estreitamento das relações, somente duas empresas brasileiras consideradas grandes aportaram na China no período posterior a 2008. Ambas frigoríficos: a Marfrig em 2011 e, neste ano, a Brasil Foods.
A Embraer, por exemplo, iniciou em 2002 a operação de uma fábrica no país asiático. A fabricante de ônibus Marcopolo se estabeleceu em 2000 naquele país. A construtora Odebrecht presta assistência técnica na China desde 1990. A Vale está lá desde 1973.
A explicação para esse retrocesso, de acordo com Frischtak, está na deficiência do governo brasileiro fazer a “ponte” entre empresas brasileiras e empresas/governo chinesas. “É preciso fazer políticas de estímulo ao investimento além de aumentar o grau de coordenação intergovernamental, o que facilitaria o diálogo das empresas brasileiras com as chinesas”, disse o consultor da CEBC.
Já as empresas chinesas têm a interferência do governo nas suas decisões, o que é explicado pelo fato de a maioria das grandes companhias chinesas ter capital público em sua estrutura acionária. Aproximadamente 90% dos US$ 24,4 bilhões que a China investiu no Brasil foram oriundos de estatais.
Fonte: www.dcomercio.com.br – Publicado, 21/11/12 – Escrito por Renato Carbonari Ibelli