A biometria é o novo patamar de segurança das transações bancárias. A frase de Marcelo Câmara, diretor setorial de prevenção a fraudes da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) sinaliza o que já vem acontecendo no setor financeiro quando se fala em prevenção a fraudes.
O uso da captura de imagens das digitais, das veias dos dedos ou da palma da mão de clientes, que elimina a utilização de chaves de segurança ou códigos de acesso para operações de saque e consulta de saldo, já é uma realidade em bancos como Bradesco e Itaú Unibanco.
Economia de tempo
“A vantagem (da biometria) em relação aos dispositivos atuais é que ela tira o caráter de o que você tem (o cartão) para o que você é. Ou seja, identifica efetivamente a pessoa, não o objetivo”, diz Rodrigo Filev, professor de Ciências da Computação e coordenador do curso de pós-graduação em segurança da informação da Fundação Educacional Inaciana (FEI). “É um reforço do fator de autenticação das operações.
Para o cliente, é interessante não só pela segurança, mas pela economia de tempo”, completa o gerente executivo da diretoria de Gestão de Segurança do Banco do Brasil, Luiz Fernando Martins. De acordo com ele, pelos testes-piloto realizados na implantação da biometria no banco, o ganho de tempo nas transações é de 14 segundos. Atualmente, a média de uso é de 46 segundos.
A identificação biométrica é uma das formas mais avançadas em que o setor investe para garantir a segurança das operações. E não é por menos: com o crescimento do número das contas em 59% e das transações bancárias em 168% entre 2002 e 2012 (dados da Febraban), os bancos passaram a investir R$ 9,9 bilhões por ano em tecnologias anti-fraude. Aparentemente, tem dado certo: as perdas das instituições financeiras com transações fraudulentas, que eram de R$ 1,5 bilhão em 2011, caíram 6,7% em 2012.
Hoje, não há legislação específica para uso da biometria, e a implantação se enquadra nas legislações referentes a tempo e formato para guarda de transações eletrônicas, explica o diretor de canais digitais do Bradesco Luca Cavalcanti. “Para cadastro e utilização dos dados biométricos pelo cliente, desenvolvemos um Termo de Autorização. Atualmente, o cadastro não é obrigatório, e pode-se usar outras formas de validar operações. Mas com mais clientes aderindo, pode ser que no futuro a utilização desses leitores se torne obrigatória”, sinaliza.
Em algumas instituições, a tecnologia está bastante difundida. No Bradesco por exemplo, pioneiro por ter incluído a biometria através da leitura das veias da palma da mão em seus terminais de auto-atendimento desde 2007, atualmente 94% deles (32,7 mil terminais) já possuem biometria, explica Cavalcanti. “Mais de 12 milhões de clientes hoje utilizam a identificação biométrica para acesso. Até março deste ano será finalizado o processo de instalação do sistema em todos os terminais”, informa. Conforme o executivo, uma semana após o início da permissão do banco para saques e consulta do saldo por identificação biométrica, foram feitas 216 mil transações sem cartão.
No caso do Itaú Unibanco, que em dezembro passou a autorizar saques para clientes com biometria cadastrada pelas digitais, a tecnologia está instalada em todas as quase 5 mil agências no País, e deve estar em todos os caixas até o fim de 2013, diz o diretor de produtos para pessoa física Luiz Veloso. “A expectativa é que todas as novas contas-correntes adotem essa tecnologia”. Além dos novos correntistas, o banco já cadastra as digitais dos clientes atuais.
O Banco do Brasil (BB) iniciou o piloto da implantação biométrica no final de 2011. Na época, foram definidas três tecnologias (digitais, veias dos dedos e da palma da mão) para clientes do banco em 30 terminais espalhados em Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. O processo mais massificado foi o de impressões digitais. “O interessante foi a aceitação: os clientes que usaram o terminal com biometria normalmente voltavam a usá-lo. A maioria gostou não só pelo aspecto ligado à segurança, mas ao de economia de tempo”, diz Martins.
A perspectiva do Banco do Brasil é terminar 2013 com 12 mil terminais em funcionamento com a tecnologia.
Já a Caixa Econômica Federal iniciou o uso da biometria no pagamento do Bolsa-Família e dos benefícios sociais do INSS por meio da leitura da impressão digital em dezembro de 2010. No segundo caso, a autenticação biométrica para o saque servirá como prova de vida anual para garantir a continuidade do benefício. “A intenção é expandir para outros benefícios sociais, com o Seguro-Desemprego, e para produtos comerciais, como contas-correntes”, informa Rogério Pedersen Monteiro, superintendente nacional de governança de TI da Caixa.
Hoje, diz, há mais de 6 mil terminais com leitores biométricos. A Caixa planeja utilizar o sistema nas lotéricas e nos correspondentes Caixa Aqui. O orçamento previsto para atualizar o parque tecnológico em 2013 é de R$ 70 milhões. Para a aquisição de estações de coleta biométrica, será R$ 15 milhões.
Fraude zero
Monteiro, da Caixa, informa que o sistema deve aumentar a conveniência dos correntistas pois senhas numéricas serão dispensadas. “Será eliminada a necessidade de recadastramentos constantes de senhas. Até a mídia física dos cartões poderá ser dispensada”, frisa.
Quanto à projeção de redução de fraudes, Martins, do BB afirma que sempre se trabalha pelo “zero”. “Mas não dá para dizer que vai zerar porque novos modos serão criados. A tal engenharia social, do esbarrão no cliente, ou da ajuda para usar o terminal pode acontecer. Mas mesmo que aconteça a fraude, não terá sequência pois depende da presença física do cliente”, ressalta.
Fonte: www.dcomercio.com.br – Publicado, 20/01/13 – Escrito por Karina Lignelli