Quanto vale a sua empresa? Saiba como descobrir.

Você já parou para avaliar ou calcular o valor de sua empresa? A resposta provavelmente será negativa no caso de quem ainda não precisou vender ou comprar um empreendimento. Mas, mesmo nessa situação, pode ser vantajoso fazer esse trabalho periodicamente: ele ajuda na elaboração de metas de crescimento e de lucro para o empresário e seus sócios.

“É importante saber quanto vale a empresa pelo dinheiro que vai levar aos sócios”, diz Dariane Castanheira, professora e consultora do Programa de Capacitação de Empresas em Desenvolvimento (Proced), da Fundação Instituto de Administração (FIA).

“Trata-se de um acompanhamento constante, feito também para saber se os objetivos de valorização da empresa estão sendo atingidos”, afirma.

Segundo o analista da Unidade de Inteligência de Mercado do Serviço Nacional de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP), Luiz Ricardo Grecco, um método muito indicado para avaliar o valor de empresas pequenas, que tenham até

R$ 3 milhões de faturamento por ano, é o de Fluxo de Caixa Descontado (FCD). Esse modelo permite o cálculo do valor de uma empresa com base na projeção de seu futuro em termos de geração de caixa. Esse tipo de fluxo tem de ser feito em conjunto pelo contador, o dono da empresa e, em muitos casos, com a participação de um profissional de administração financeira.

Antes de qualquer projeção ou escolha de modelo, no entanto, a empresa precisa ter um planejamento financeiro bem controlado e gerenciado. “Muitos acham que, por serem pequenos empresários, não podem aplicar o método do fluxo de caixa futuro descontado, mas no Proced da FIA e no Sebrae é possível obter orientações sobre o assunto”, afirma Dariane.

Múltiplos – Um método comum entre empresas pequenas é a avaliação do negócio por múltiplos, método associado a uma conta simples: o preço da empresa dividido pelo seu faturamento. Para fazer esse cálculo, o empreendedor  precisa buscar os dados de preços de venda e de faturamento de empresas de atividade idêntica, para depois calcular todos os múltiplos e compará-los. O indicador múltiplo mostra o quanto o negócio vale em relação ao que fatura. Assim, um múltiplo “três” revela que a empresa vale o triplo do que fatura.

É uma medida útil, mas não deve ser usada isoladamente, por não ser suficientemente forte no momento da negociação de compra ou venda. Um dos problemas é o acesso aos dados da concorrência para a formação dos múltiplos. “Os múltiplos podem ser usados, desde que estejam baseados em projeções de fluxo de caixa descontado”, diz Dariane.

Para o professor de Análise de Cenários Econômicos e Sistema Financeiro Nacional da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), Silvio Paixão, a avaliação envolve outras observações. “Na micro e pequena empresa, mais do que avaliar o potencial de ganho da empresa é preciso ver quem está no comando. Para empresas desse porte, o estilo do dono do negócio pode neutralizar, gerar sucesso ou insucesso”, afirma. Para o professor, o múltiplo é um ponto da negociação, mas não é o único, já que o comprador vai olhar especificidades e estabelecer referenciais – sobre o que pode acontecer no futuro.

Receita – O sócio da assessoria de finanças empresariais Dikaios, André Reginato, diz que durante a negociação de uma pequena empresa a maior preocupação é com a receita. “Para fazer um FCD é preciso ter informações precisas e seguras. Mas o comprador vai olhar mesmo a receita. Conforme a empresa cresce e fica estável, mais centrada a avaliação será sobre o lucro líquido, lucro antes de impostos, margem bruta e geração de caixa estimado. Dependendo da situação da empresa, o que interessa são as vendas. Essa é a diferença entre grandes e pequenas”, diz.

Outra característica que o consultor observa é a volatilidade maior dos pequenos negócios. “A empresa  pode ter faturado R$ 2 milhões em um ano, mas de forma pontual, sem manter essa toada. A volatilidade é maior, fazendo com que a taxa de desconto seja maior e, assim, os múltiplos sejam menores”, diz.

Conversa – No final, a avaliação do valor de uma empresa é a referência para uma conversa na qual uma parte (o vendedor) quer valorizar e a outra (o comprador), desvalorizá-la. “O método do FCD é mais pé no chão porque consegue mostrar todos os valores da planilha, é transparente porque mostra cada premissa para se chegar a um número para o futuro. Assim, tanto o empreendedor quanto o investidor conseguem argumentar”, afirma o coordenador do Centro de Empreendedorismo do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), Marcelo Nakagawa.

O fato é que a conversa é uma entre empreendedores e outra quando em uma das pontas está o investidor de capital de risco. “Quem lidar com um investidor terá de se preparar bem mais porque ele vai trazer e cruzar mais métodos de avaliação. Será preciso o apoio de um consultor do mercado de capitais , diz o coordenador do Insper.

Serviço

Atendimento, workshops e cursos

Local: Programa de Capacitação da Empresa em Desenvolvimento (Proced) da Fundação Instituto de Administração (FIA).

www.fia.com.br/proced

O negócio é pensar como os  grandes

A receita do dentista e empresário Luís Alexandre Chicani, de 46 anos, para driblar esse tipo de problema foi ter uma preocupação excessiva com a contabilidade. “Isso ajudou na hora de levantar informações. É preciso escolher um profissional especializado, que faça múltiplos e FCD. Além disso é preciso pesquisar dados do mercado nacional e internacional para construir essas análises”, diz ele.

Hoje, Chicani é presidente do conselho da gestora de benefícios benCorp e sócio e CEO do Club Saúde (cartão pré-pago para saúde). “Sou empreendedor da organização sem fins lucrativos Endeavor  desde 2003, o que me agregou uma cultura empresarial importante. Também me preparei estudando”, diz ele, que se pós-graduou na Fundação Getulio Vargas (FGV).

Sua primeira experiência com a avaliação do valor de uma empresa ocorreu em 2005, quando começou a negociação para a venda de sua empresa, a Dental Corp – operadora de plano de saúde odontológico – para a Odontoprev, por US$ 15 milhões.

A empresa foi fundada em 1989, e partiu da compra de um consultório odontológico usado por US$ 600. A história da Dental Corp se tornou objeto de estudo na Universidade de Harvard.

“O momento da venda foi quando percebi o grau de dificuldade de uma empresa pequena. Tive ajuda de um advisor, com formação em Administração e Direito, para fechar o negócio. O valor foi bom para ambas as partes”, diz.

A Dental Corp já tinha contabilidade formal, uma estrutura de governança e conselho consultivo, além de seguir regras da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), entre as quais a auditoria de balanços contábeis. “Tudo isso ajudou a criar uma estratégia e uma disciplina. Quando precisei, consegui rapidamente levantar os dados e chegar a um número do valor da empresa que viabilizou o negócio”, explica.

Em 2008, Chicani montou a gestora de benefícios benCorp. Em 2011 e 2012,   comprou duas empresas  que hoje fazem parte da benCorp.  Em 2011,  fundou também a TourisMed, que credencia hospitais e profissionais de saúde para atender turistas, e o ClubSaúde, um cartão pré-pago para a saúde.

O que é o FCD

O fluxo de caixa descontado é um dos métodos de avaliação de empresas. Começa com um plano financeiro  em que constem dados do que o empresário acha que vai acontecer nos próximos cinco anos. “O ideal é fazer o planejamento do demonstrativo de resultados e do balanço para o futuro, ou seja, quanto vai ter de lucro, de receita e quais serão os custos, despesas e impostos a serem pagos. Além disso, qual será o valor de empréstimos, depreciação e amortização e quanto será necessário em novos investimentos (máquinas etc)”, afirma   Dariane Castanheira,  consultora do Programa de Capacitação de Empresas em Desenvolvimento (Proced), da Fundação Instituto de Administração (FIA).

O objetivo é a projeção da geração de caixa. Com base nesse ponto pode ser feito o cálculo da perpetuidade. “Com uma taxa de juros, que pode ser a Selic, deve-se trazer o valor futuro, perpétuo, ao valor presente. A parte mais difícil é fazer as projeções, o que temos feito para pequenas empresas. Leva cerca de um mês. Se a empresa não tem contas classificadas conforme o demonstrativo de resultados, é preciso acertar a base de dados e apurar lucro, geração de caixa, lucro líquido menos investimentos e empréstimos e planejar cinco anos para frente”, explica a consultora.

O papel do contador

Embora o contador não seja o único responsável pela avaliação do valor da empresa, ele ocupa um papel de destaque. O coordenador do Centro de Empreendedorismo do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), Marcelo Nakagawa, diz que a empresa que tem um bom contador transmite segurança ao comprador na negociação de venda.

A conselheira do Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo (CRC-SP), Angela Zechinelli Alonso, recomenda ao pequeno empresário observar o contador. “Ele deve se manter atualizado, participar de cursos e treinamentos  de forma permanente”, afirma. Segundo ela, as pequenas empresas devem manter rígidos controles de suas operações, e exigir uma contabilidade adequada às normas padrão International Financial Reporting Standards (IFRS) para gerenciar o negócio – e não apenas um simples registro de operações de entradas e saídas de caixa.

O padrão IFRS tem um conjunto de normas internacionais  que indicam como devem ser feitas as  demonstrações financeiras. “Existem normas contábeis específicas para pequenas e médias empresas e o contador deve orientar o empresário. Deve partir de um balanço inicial, que dará base a uma adequada avaliação econômico-financeira”, diz.

Fonte: www.dcomercio.com.br – Publicado, 27/01/13 – Escrito por Rejane Tamoto

Comments are closed.