Pesquisa da Boa Vista derruba mitos

A intensa mobilidade social, com ampliação do acesso ao crédito para milhões de pessoas, põe à prova percepções consagradas sobre o comportamento do consumidor brasileiro. Algumas delas, como a crença de que a população de baixa renda paga as suas contas em dia, são apontadas como falsas pela pesquisa Mercados – Endividamento e Inadimplência, Mitos e Verdades, divulgada ontem pela Boa Vista Serviços, administradora do Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC).

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“Algumas percepções precisam ser revisadas, para se ter uma boa gestão da carteira de crédito”, comentou o presidente da empresa, Dorival Dourado. Ele ressalvou, no entanto, que os novos consumidores aprendem depressa que crédito é indispensável e deve ser usado com critério.

“Não se pode dizer que o consumidor de baixa renda é automaticamente bom pagador. Com o maior acesso ao crédito, ele também se coloca na situação de endividamento e pode se tornar inadimplente”, justificou o diretor de Inovação da Boa Vista Serviços, Fernando Cosenza.

No estudo, realizado pela empresa APPM (Análise, Pesquisa e Planejamento de Mercado), 60% dos entrevistados das classes C e igual percentual da D/E declararam ter dívidas. Nesse universo, 45% e 48%, respectivamente, disseram ser difícil quitá-las com a renda mensal atual. É entre eles também que se observaram os maiores contingentes de pessoas com restrições no mercado para crédito – 23% e 21%. Nas classes A e B, o indicador recua para 5% e 13%, respectivamente.

A pesquisa também aponta como mito a percepção de que a renda das famílias de menor poder aquisitivo é mais volátil, no sentido de ser muito variável a cada mês. “Isso era uma verdade há 20 ou 30 anos, por causa do trabalho informal”, afirmou Cosenza. No estudo, 47% dos entrevistados das classes C e 61%, na D/E, afirmaram que a soma da renda familiar é sempre a mesma – contingente que chega a 40% dos entrevistados da classe A e a 45%, na B. “Na D/E, a soma dos que dizem que a renda não varia ou varia pouco chega a 93%”, enfatizou Cosenza.

Entre as oito percepções pesquisadas nacionalmente pela APPM, também foi apontada como mito a percepção de que as mulheres estão à frente da gestão do orçamento familiar. Dos entrevistados (45% dos ouvidos) que se declararam responsáveis pela gestão dos gastos da família, 52% são homens e 48%, mulheres, indicando uma situação mais equilibrada. É um reflexo, comenta Cosenza, da entrada da mulher no mercado de trabalho. Já quando o assunto é a sustentação das finanças domésticas, o homem é apontado como o principal provedor.

Verdades – Entre os paradigmas que o estudo da Boa Vista ratificou como “verdade” está a percepção de que o consumidor de baixa renda, além de não se proteger contra fraudes (emprestando o nome para compra de terceiros, por exemplo), também não poupa e não faz planejamento financeiro. No caso da fraude, o estudo destaca que apenas falta a esse consumidor alinhar sua atuação. De acordo com a pesquisa, 97% dos entrevistados das classes D/E consideram ser o nome o seu maior patrimônio, mas 22% deles declararam que estão “negativados” porque emprestaram o nome a terceiros.

Poupança – No caso da poupança, apesar da pesquisa apontar que 79% da Classe D/E (e 63% da C) não ter o costume de poupar, 38% dos entrevistados, nos dois casos, afirmaram que fariam isso, segundo o estudo, se tivessem mais renda.

“Não importa quanto você ganha; importa quanto você gasta”, comentou Cosenza, diante da percepção de que essas pessoas utilizam a sobra do orçamento para consumir.

Para a Boa Vista Serviços, segundo ele, educação financeira e planejamento poderiam contribuir para reverter esse cenário e criar condições sólidas para a expansão do crédito, “sem que se crie uma bolha”.

O mesmo raciocínio vale para o pensamento de que “o consumidor não pensa em juros, mas no valor da parcela”. Foi predominante, entre entrevistados de todas as classes sociais, a concordância de que “o nome é o maior patrimônio da pessoa”.

O presidente da Boa Vista, Dorival Dourado, acredita que a inadimplência, na casa de 7,9% do crédito para pessoa física (último dado do Banco Central), recuará para 7,4% até o final do ano.

Fonte: www.dcomercio.com.br – Publicado, 27/09/12 – Escrito por Fátima Lourenço

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