A lacuna no mercado brasileiro de microfranquias começou a ser preenchida em 2008, ano em que a atividade passou a se popularizar no País, apoiada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), conta o diretor do Grupo Zaiom, Artur Hipólito. “Dados do Sebrae mostram que cerca de 80% dos pequenos empreendimentos fecham antes de um ano. Mas a organização e dados técnicos do setor permitiram desenvolver novos empreendedores”, afirma. O aparecimento das microfranquias ajudou a dar novo direcionamento no franchising para as pessoas empreenderem mais com menos dinheiro. E tanto a organização faz surgir novos empreendedores que grandes empresas, como a Ambev, procuraram atender o novo segmento – a cervejaria tem enorme entusiasmo pelos quiosques que levam sua marca.
Por outro lado, se a atratividade das microfranquias gerou uma espécie de boom recente no mercado, puxado pela atrativo do baixo investimento, a novidade trazida pelo formato ainda demanda cuidados para que o empreendedor não caia em armadilhas. A advogada Patrícia Cavassani, da Novoa Prado Consultoria recomenda, antes de mais nada “um estudo aprofundado de viabilidade do negócio”. Apesar do boom, já existem casos em que há declínio rápido do negócio pela falta de informações pelo franqueador. E pela estrutura mínima, suporte e treinamento quase não existem.
“Esse é o primeiro retorno do royalty investido – mais a consultoria para tocar o negócio por pelo menos cinco anos, que deve ser o prazo mínimo do contrato”, explica a advogada. “Sem contar os casos em que a franqueadora some e não dá o tratamento necessário. É um risco considerável, que enfraquece demais o pequeno empresário”, completa, mencionando várias reclamações que chegam ao escritório por esse motivo.
Um empreendedor que adquiriu uma microfranquia em 2012 é um desses exemplos. Entusiasmado com os ganhos prometidos no momento da compra, planejou abrir um quiosque para a temporada de verão. Mas deu tudo errado. “Depois de adiar a entrega por quatro, cinco vezes, me prometeram para janeiro – ou seja, para depois da temporada. Estou esperando até agora. Sem contar os fornecedores homologados pela empresa que, em caso de problemas, não assumem a co-responsabilidade pelos problemas”, conta ele, que só depois soube por outros empreendedores que 70% dos negócios da mesma rede fecharam. “Faltou transparência. Se não conseguem lidar com o volume de franquias vendidas, não vendam”, afirma.
Ricardo Camargo, diretor executivo da Associação Brasileira de Franchising (ABF), lembra que a associação já recebeu comunicação de muitos casos de problemas com redes que vendiam o modelo, mas não conseguiam entregar. “Mesmo sendo microfranquia, é preciso se desenvolver da mesma forma que as redes tradicionais, até conseguir o aval para se associar (à ABF)”, afirma ele, que recomenda, para evitar problemas, avaliar bem as propostas antes de comprar uma franquia, formalizar tudo em contrato e conversar com outros franqueados da rede para saber se estão satisfeitos.
Longe do conceito de “auto-emprego”, as microfranquias, lançadas na Ásia pelo Banco Mundial em locais como Vietnã e Camboja, surgiram, segundo Camargo, não só para criar empregos, mas para estimular o desenvolvimento profissional com menor investimento. “Mas tudo isso tem que ser acompanhado da Circular de Oferta de Franquias (COF), com direitos e obrigações, além da preocupação com desenvolvimento e treinamento em novas metodologias de trabalho”, afirma.
O consultor Marcus Rizzo, da Rizzo Franchising, lembra que baixo nível de investimento também pode significar baixa estruturação. “Muitas unidades abrem, mas muitas fecham. Se o crescimento das microfranquias nos últimos cinco anos tem sido consistente, a primeira coisa para se ficar atento ao optar por esse modelo de negócio é ter forte identificação. “E não aceitar indicações ou comprar por intermediários, mas verificar se há casos em que a franquia escolhida cresce e tem retorno garantido”, orienta.
Outro dado que merece atenção, segundo Patrícia Cavassani, é que dificilmente o interessado encontrará uma marca com mais de dois anos de mercado. Por isso é importante pesquisar antes. “As próprias franqueadoras são novas. Será que há know how suficiente, se nasceram há apenas seis meses,? Como o franqueado enfrentará problemas que a rede ainda não enfrentou e por isso não terá condições de auxiliar? Muitas vezes, o barato sai caro”, alerta a advogada.
Fonte: www.dcomercio.com.br – Publicado, 17/07/13 – Escrito por Karina Lignelli